Esse título eu peguei emprestado de um capítulo de livro que escrevi anos atrás sobre os desafios bioéticos da nutrição nos cuidados paliativos (título na referência). Aqui vou usar parte do capítulo e atualizar o conteúdo com novas informações dentro da perspectiva da multidisciplinaridade. Mas antes quero lembrar o conceito de cuidados paliativos, em seguida de multidisciplinar.
Os cuidados paliativos são cuidados ativos destinados às pessoas com doenças crônicas, progressivas e ameaçadoras à continuidade da vida, com objetivo de oferecer prevenção e alívio do sofrimento ao paciente, além de melhor qualidade de vida. Uma particularidade dos cuidados paliativos é a abordagem holística, ou seja, olha e cuida do doente em todos os sentidos: biológico, psicológico, social, espiritual/existencial; englobando também sua família. Por isso, ter uma equipe multidisciplinar é fundamental.
Vários termos são usados para definir uma equipe com diferentes profissionais de diversas áreas do saber, por exemplo, multiprofissional, pluridisciplinar, interdisciplinar, e até transdisciplinar; muitas vezes empregados erroneamente. Considerando que cada termo tem sua definição e aplicação, optei em ficar com o termo multidisciplinar (em inglês multidisciplinary) porque é ele que, até o momento, aparece nos artigos e documentos que tratam de cuidados paliativos.
Podemos entender equipe multidisciplinar como uma orquestra em sintonia. Os músicos são os profissionais de saúde, cada um com sua formação e especialização, mas todos com objetivos em comum, desenvolvendo trabalhos/estudos interdependentes e colaborativos para encontrar respostas (resultados) de um mesmo assunto com perspectivas variadas e distintas.
Nesse sentido, os profissionais de saúde – seja o médico, o enfermeiro, o psicólogo, o nutricionista, o fisioterapeuta, o assistente social, entre outros, têm grande responsabilidade em empregar todas as habilidades para promover o conforto físico e emocional dos doentes. Muitas vezes essa equipe também é formada por outros profissionais que não são de saúde, como o capelão religioso e o voluntário. Todavia, Independentemente do número profissionais, a sua variedade com objetivos e tomadas de decisão em comum são o que caracterizam essa equipe.
Em cuidados paliativos não há espaço para tomadas de decisão exclusivas. Tudo é conversado e debatido em equipe, junto com o doente e sua família. Se por um lado é um desafio diário na relação interprofissional, bem como na relação profissional e doente/familiar; por outro, é muita aprendizagem do ponto de vista profissional, sobretudo pessoal. Para tal, a interação respeitosa e amistosa com os profissionais, os doentes e suas famílias durante a relação terapêutica dependem de uma comunicação dinâmica, contínua, franca, clara, cuidadosa, de fácil compreensão. Somente assim tornam-se possíveis tomadas de decisão com segurança, confiança mútua, resolutividade; sem perder o foco no cuidado humanizado e compassivo.
As equipes multidisciplinares de cuidados paliativos favorecem a melhor compreensão das necessidades e expectativas dos pacientes, o que permite que eles realmente continuem vivendo até o fim, sendo tratados com conforto, apoio e dignidade.
Bibliografia consultada
Gómez-Batiste X, Connor S Building Integrated Palliative Care Programs and Services. WHO Collaborating Centre Public Health Palliative Care Programmes; 2017.
Benarroz MO, Scapulatempo HH, Silva SMA, Santos MS (2017). Nutritional intervention and bioethics challenges in palliative care for advanced cancer. In Cole MC. Bio and Research Ethics. Issues, Perspectives and challenges of the 21st century. New York. Nova Science Publishers Inc.
Organização Pan-Americana da Saúde. Cuidados inovadores para condições crônicas: organização e prestação de atenção de alta qualidade às doenças crônicas não transmissíveis nas Américas. Washington, DC : OPAS, 2015.