Muitas pessoas acham que para tratar o câncer é necessário fazer dietas especiais com restrições alimentares, que quase sempre não apresentam comprovação científica, e até mesmo, comer alimentos que não gostam. Isso não é bom! Torna a alimentação um fator de estresse emocional, nada saudável para o corpo e a mente.
Ter acesso a uma alimentação nutritiva e saborosa é fundamental para que todas as pessoas tenham prazer no que comem e boa qualidade de vida. Mas, durante os tratamentos anticâncer, o indivíduo pode apresentar algumas dificuldades em alimentar-se adequadamente e não conseguir atender suas necessidades nutricionais. Ele pode queixar-se, por exemplo, de falta de apetite, de mudanças no paladar, de alterações digestivas e intestinais. Por isso, é tão importante valorizar a alimentação, colocando sabor e tornando a comida mais prazerosa. Igualmente, faz-se necessário compreender as limitações do doente, fazendo das refeições um momento agradável de nutrição e de esperança.
O conceito de Nutrição com segurança e prazer foi desenvolvido por mim, a partir da vivência de 15 anos na oncologia e observando os dramas dos pacientes e seus familiares relacionados ao que comer, por causa do câncer.
Nutrição com segurança e prazer significa conciliar condutas pautadas nos aspectos clínicos, nutricionais, higiênicos, éticos e emocionais, que ajudam o doente a alimentar-se da melhor forma possível, assegurando-lhe o bem-estar e a dignidade durante os tratamentos anticâncer, seja com finalidade curativa ou paliativa.
Essas condutas respeitam a singularidade de cada doente, o principal protagonista dos cuidados. Vamos conferir cada uma delas:
- Atender as quatro Leis da Alimentação: quantidade, qualidade, harmonia adequação. O objetivo do plano alimentar é atender as necessidades de uma pessoa em particular. Para isso, devemos considerar a idade, o gasto energético (atividade física), as condições de saúde (física e emocional), os tipos de doenças, a capacidade funcional, os gostos e hábitos alimentares e, as condições socioeconômicas e culturais.
- Empregar as Boas práticas da alimentação: Cuidados com a higiene dos alimentos e dos ambientes onde os alimentos são preparados, armazenados e consumidos. Higiene pessoal de quem lida com os alimentos e quem os consome. A higiene é fundamental para evitar a contaminação por microrganismos (vírus, bactérias, parasitas em geral) através dos alimentos e da água. As doenças vinculadas por alimentos causam sérios danos à saúde, principalmente para quem está em tratamentos anticâncer, cujo sistema imunológico encontra-se mais fragilizado.
- Respeitar os hábitos alimentares do doente: sem imposições ou restrições alimentares desnecessárias. Toda e qualquer proposta de mudança dos padrões alimentares e nutricionais deve ser conversada, explicada e negociada com doente para ter a sua aprovação. A imposição de regras alimentares desnecessárias não contribui para a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida do doente.
- Ressignificar a comida: dar um novo sentido ao alimento quando não é possível comer do jeito que se gosta faz toda a diferença. Em algum momento durante o tratamento ou a progressão do câncer, a pessoa pode, por exemplo, não conseguir mastigar e/ou engolir, ou ainda, ter alguma complicação que seja necessária a colocação de uma sonda gástrica para alimentação (temporária ou permanente). Esta fase é muito delicada. Assim, deve ser avaliada com carinho, ética e conhecimento técnico para que alimentação tenha sentido para o doente, mesmo sendo diferente daquilo que era seu hábito.