O intestino é um dos órgãos mais importantes do nosso corpo, mas talvez um dos mais desprezados. Sua aparência realmente não encanta, mas sua utilidade é simplesmente surpreendente. Outra coisa que possivelmente nos atrapalha é que o mesmo órgão muda de nome, além de ter várias partes. Sim, o intestino é como uma grande avenida que muda de nome quando muda o bairro e fica inclusive mais larga.
Afinal, o que é o intestino? Onde fica, o que faz e para que serve? Vamos fazer um passo-a-passo e tornar esse entendimento mais fácil, pois o intestino precisa ser cuidado, estimulado e vigiado, pois lá ocorrem várias modificações, trocas e transformações de substâncias, além da um viveiro de microrganismos, fundamentais para a nossa saúde, sobretudo de bactérias.
A primeira coisa que devemos saber é que o intestino é um órgão do sistema digestório, semelhante à um tubo muscular, que começa logo após o estômago e termina no ânus. Ele é dividido em duas partes com funções distintas e complementares. Cada uma dessas partes é dividida em outras partes diferentes, como descrito abaixo.
- Intestino delgado: é um tubo com o diâmetro mais estreita e varia de, aproximadamente, 6 metros de comprimento que fica em forma de novelo dentro do abdômen. No seu interior existem estruturas semelhantes aos dedos que chamamos de vilosidades, necessárias para aumentar a superfície da absorção dos nutrientes resultantes da digestão dos alimentos. O intestino delgado divide-se em três porções: duodeno (no início, próximo ao estômago), jejuno (no meio) e íleo (final do órgão, próximo ao intestino grosso). Suas principais funções são a digestão de gorduras e proteínas e a absorção de nutrientes. Todo esse processo precisa ser realizado com muita eficácia, por isso tem uma duração que pode chegar a cinco horas.
- intestino grosso – também nomeado de cólon, é a continuidade do delgado com tubo mais largo no diâmetro. Porém o intestino grosso tem menor comprimento, aproximadamente 1,5 metro, dividido em quatro partes: ceco, cólon (a maior extensão do órgão), reto e canal anal. Ele é fundamental na absorção de água e eletrólitos, na produção de vitaminas por meio dos microrganismos que lá vivem. Além disso, é responsável pela excreção de resíduos metabólicos sólidos na forma de fezes. Essa atividade, em especial, pode levar um dia inteiro. O processo de excreção é algo impressionante – cor, espessura, consistência, odor, entre outras características são reveladoras da nossa saúde.
Os intestinos são povoados por dezenas de trilhões de microrganismos (bactérias, fungos, vírus, etc.). Essa comunidade foi batizada de microbioma. Na realidade, o microbioma ocupa todo o trato digestório (que começa na boca e termina no ânus); mas é no intestino grosso que esses microrganismos preferem viver por encontrar um ambiente mais propício (muito menos ácido).
Outra informação básica diz respeito à funcionalidade associada ao sistema nervoso e imunológico. Como descrito acima, cada porção de intestino tem um papel diferenciado em todo o processo digestivo. Parece que esses processos já estão bem estabelecidos: digestão, absorção e excreção. Contudo, o que cada vez mais se discute nas últimas décadas é o papel simbiótico do intestino, ou seja, como nosso intestino serve de habitat natural para tantos microrganismos que tanto interferem na nossa saúde física e emocional. Os cientistas vêm considerando o intestino como o segundo cérebro. Eles descobriram a forte relação do sistema digestivos com diversas doenças, entre elas, podemos citar a obesidade, o câncer, as alergias, a depressão, crise de ansiedade, doenças intestinais, doenças autoimunes, entre outras.
Por outro lado, a obesidade e os medicamentos usados no tratamento dessas doenças também podem alterar e prejudicar nosso microbioma, trazendo desequilíbrio e, consequentemente, doenças para nosso corpo. Outros fatores que igualmente afetam o microbioma, são eles, a idade, a genética, os hábitos alimentares, entre outros.
Além das funções de quebrar toxinas, produzir vitaminas (B e K), fortalecer nossas células intestinais, os microrganismos têm um papel essencial estimulando o sistema imunológico. No entanto, parece que essas informações divulgadas em diferentes formas – desde a divulgação científica até a comunicação de massa – não convenceu a população, pincipalmente os mais jovens. A prova disso é o aumento do consumo de fast food nos últimos anos, embora seja de conhecimento geral que esse grupo de alimentos – ricos em gorduras saturadas e poucas fibras, características negativas de uma alimentação saudável – não ajudam no bom funcionamento do intestino.
As fibras dietéticas são cruciais para alimentar as bactérias que vivem no cólon, que por sua vez produzem ácidos graxos de cadeia curta, cuja função está associada, por exemplo, aos processos metabólicos, à produção de mediadores anti-inflamatórios e à manutenção dos níveis sanguíneos normais de glicose e colesterol, essenciais na saúde intestinal. Uma verdadeira simbiose.

Para que o nosso intestino seja sadio ele precisa ser bem alimentado e para tal, nada melhor que consumir, preferencialmente, alimentos ricos em fibras, como os cereais integrais, grãos, sementes, oleaginosas, frutas, legumes e verduras. Isso não significa que não podemos comer outras coisas. Radicalismos à parte, significa apenas que devemos preferir uma alimentação colorida associada aos outros alimentos dentro de um contexto alimentar variado e adequado para a realidade e particularidade de cada pessoa.
Além dos alimentos convencionais, existem alimentos enriquecidos e fabricados com microrganismos vivos, que igualmente são benéficos para nossa saúde. Os alimentos fermentados como iogurte com culturas ativas vivas, kefir, chá kombucha, vegetais em conserva são excelentes opções.
Finalizando, vale avisar (ou informar) um detalhe muito importante: as bebidas alcoólicas são bastante agressivas e, consequentemente, nocivas tanto para os microrganismos quanto para as células do intestino. Por isso, além de investir em hábitos alimentares saudáveis, o lema beba com moderação vale na direção de um veículo, assim como na direção de uma vida equilibrada.
Bibliografia consultada
Pierri V. Desequilíbrio na microbiota intestinal pode aumentar estados depressivos e de ansiedade. Jornal da USP. São Paulo. 21/09/2021. Atualidades. Disponível em https://jornal.usp.br/?p=454864. Acesso em fev/2023.
Pacheco F. Quais são as principais tendências para o mercado de Food Service em 2023 e como se preparar. 13/02/2023. Disponível em http://bit.ly/3meqvW8. Acesso em fev/2023.
Plassmann H., et al. “How we decide what to eat: Toward an interdisciplinary model of gut–brain interactions.” Wiley Interdisciplinary Reviews: Cognitive Science, 2022; 13.1: e1562.
Bear et al. The Role of the Gut Microbiota in Dietary Interventions for Depression and Anxiety. Adv Nutr, 2020; 11(4): 890–907.
Zheng, Danping, Timur Liwinski, and Eran Elinav. “Interaction between microbiota and immunity in health and disease.” Cell research, 2020; 30:492–506. Enders G. O discreto charme do intestino: Tudo sobre um órgão maravilhoso. WMF Martins Fontes, 2015.