Dia Mundial do Câncer

Por Raimunda Lima* e Monica Benarroz

O câncer é a segunda doença que mais mata no mundo, com números de novos casos que aumenta a cada ano. Por isso, o dia 04 de fevereiro é uma data que merece bastante reflexão sobre o que estamos fazendo com a nossa saúde. Vários estudos mostram que 1/3 dos diferentes tipos de câncer podem ser preveníveis, isso nos anima e estimula ao autocuidado.

Se por um lado há chances de criar métodos e rotinas de prevenção, como alimentação e atividade física adequadas, entre outras coisas. Por outro lado, existem milhares de pessoas que convivem com a doença e precisam encontrar ou desfrutar o que a vida tem de melhor, apesar de tudo. A essas pessoas, de diferentes faixas etárias, dedicamos este texto: uma crônica retratando a experiencia do diagnóstico de câncer. Certamente cada pessoa com câncer tem uma realidade. As histórias são as mais variadas, os dramas e as angústias não se comparam. Mas sabemos que para todas essas pessoas a caminhada é um desafio e nem tudo está perdido.

Eu no comando.

O diagnóstico do câncer vem como um golpe! Ele rouba nossos sonhos, bagunça nossa agenda e transforma nossa vida numa incógnita. Assim aconteceu com Beth, uma jovem senhora entrando na casa dos quarenta. 

Beth é uma mulher ativa, bem-humorada, professora de educação infantil, solteira e cheia de sonhos. No período de férias, todos os anos Beth reserva um tempo para fazer os exames de rotina – de sangue, de urina, mamografia etc. Dessa vez ela foi surpreendida com um diagnóstico de câncer. Um susto! Depois de tanto cuidado… Todos os seus planos e sonhos parecem ter sucumbido num terremoto.

De repente, a viagem que estava programada para o próximo mês terá que ser reprogramada, aquela ida ao restaurante favorito com os amigos semanalmente não será mais possível e todos os outros compromissos terão que aguardar um pouco mais, até a poeira baixar. A prioridade agora é o tratamento.  Mas que tratamento? Como será isso? Essa palavra também não faz sentido diante de tantas dúvidas.

Após ser diagnosticada com câncer de intestino, a primeira sensação de Beth foi de estar caindo em um abismo sem fim, com a morte surda de companheira. A pergunta inevitável que veio a sua mente foi: por que eu?

Não existe uma receita para enfrentar um diagnóstico de câncer, existe sim uma maneira de como cada indivíduo, de uma forma muito particular, irá enfrentar a sua doença. No entanto, Beth sabe que ela precisa assumir o comando e cabe a ela decidir o melhor caminho para chegar ao destino, que embora sombrio, é a sua vida que está em jogo. No entanto, Beth sabe que não está sozinha nessa e que a sua rede solidária composta por uma família presente e amigos queridos ficará menos difícil enfrentar o medo. Será necessário coragem para ela avaliar a vida em seus mínimos detalhes, pois agora existem diferentes maneiras de olhar para a vida e encontrar valor, prazer e alguma felicidade durante esse percurso.

Quando uma pessoa recebe um diagnóstico de uma doença que ameaça a continuidade de sua vida ela não adoece sozinha. Sua família, seus amigos e todas as pessoas amadas adoecem juntos; e juntos farão essa caminhada, enfrentando e aproveitando todas as “surpresas” boas e ruins que virão de braços dados. Talvez, esse seja o segredo para que Beth possa ser bem-sucedida: estar rodeada de pessoas que ama.

Longe de romantizar o câncer, pois não é fácil todo do processo de diagnóstico, tratamento e reabilitação. Entretanto, ter uma rede de apoio moral, emocional, social, financeiro e espiritual é fundamental para tornar o enfrentamento mais leve. O mais importante nesta caminhada é estar acompanhada de pessoas solidárias, generosas e bem-humoradas.

Outro dia ouvi alguém dizer a seguinte frase: “O câncer veio pra salvar a minha vida”. Em outras palavras o que essa pessoa quis dizer foi que depois do diagnóstico do câncer e com a conscientização da sua finitude ela pode ter um novo olhar para sua vida. A partir daí, ela fez escolhas pautadas nas suas vontades e não mais pensado em agradar o outro, como a maioria de nós fazemos tantas vezes.

Por exemplo, quantas pessoas acabam fazendo uma graduação de administração de empresas porque o chefe achou que é o melhor, quando na realidade elas gostariam de ter cursado enfermagem? Renunciar os sonhos gera frustração. Depois, quando olhamos para traz percebemos que não fizemos a melhor escolha. Ao contrário, acabamos por fazer inúmeras outras escolhas na perspectiva de agradar o outro. 

É preciso se perguntar: o que me faz feliz? O que realmente é importante para mim? Como eu quero gastar meu tempo? Inevitavelmente com essas respostas podemos perceber o que o de fato é significante para nós e como viveremos o hoje aproveitando cada segundo como nunca.

Sabemos da possibilidade de ter leveza e ser feliz nessa jornada. Algumas pessoas relatam que descobriram no artesanato ou em outras atividades artísticas uma nova maneira de sentir felicidade. Outras descobriram na natureza, na música, na família algo que as fizeram mais felizes. 

Estender a mão para quem está na mesma situação que você também é uma maneira de encontrar um significado nessa fase. Permitir-se ser feliz deve ser a prioridade de quem experiencia essa fase. A Beth entendeu isso. Ela sabe que deve estar no comando e ditar as regras. Por isso, Beth decidiu viver da melhor maneira que conseguir durante o seu tratamento e reabilitação. Cantar, dançar, correr, andar de bicicleta. Divertir-se do jeito que dá. De fazer a vida valer a pena para quando chegar ao seu destino ter a certeza que fez o melhor percurso possível.

*Raimunda Lima é nutricionista clínica e paliativista.

Um comentário em “Dia Mundial do Câncer

  1. Simplesmente verdadeiro a clareza e a fundamentação deste Texto. Parabéns!!

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