Antes de tudo vamos ver a diferença entre nutrição e alimentação, porque esse entendimento faz muita diferença para quem precisa comer direito, sem sacrifícios e com prazer.
Podemos conceituar nutrição de duas maneiras: a primeira diz respeito ao seu papel enquanto ciência que estuda a relação dos alimentos e dos nutrientes com as condições de saúde e de doença.
A segunda corresponde ao metabolismo, as necessidades nutricionais e as condições do organismo, como: idade, sexo, doença, gestação, exercício físico, conforme descrito abaixo:
“Conjunto de processos metabólicos, involuntários e dependentes do fornecimento regular e satisfatório de todos os nutrientes, com o objetivo de nutrir o corpo e promover sistemas totalmente funcionais em diversas condições fisiológicas” (Benarroz & Denolato, 2019).
A alimentação, por outro lado, diz respeito às escolhas, à memória, à tradição e ao prazer sensorial. É muito além de atender as necessidades nutricionais, tem a ver com o sentido dado ao alimento e à comida, envolvendo aspectos das dimensões biológicas, emocionais, sociais e financeiras.
Com essas informações já dá para perceber que não é sensato falar de nutrição sem conhecer o sentido do alimento na vida das pessoas. Porque atender as necessidades nutricionais na sua forma mais ampla, não implica em passar por cima de hábitos e valores alimentares construídos ao longo de uma vida.
Uma alimentação saudável e nutritiva é aquela que faz bem ao corpo e à alma, que respeita as preferencias e as limitações do organismo. Por isso, consegue fornecer nutrição e prazer.
Isso pode soar como utopia, muito distante daquilo que temos visto e ouvido nas mídias, mas essa ideia não é nova. No inicio do século passado, Pedro Escudero, um médico argentino, propôs as Leis da alimentação mostrando como elas se complementam e contribuem para a saúde física, mental e social, sem pesar no bolso.
São quatro leis que orientam para o equilíbrio, a variedade e a flexibilização dos padrões alimentares de acordo a singularidade das pessoas (Chávez-Bosquez & Pozos-Parra 2016). Vamos conferir:
Quantidade: A quantidade do alimento deve ser suficiente na oferta de calorias, proteína e todos os outros nutrientes. Nem mais nem menos para manter o equilíbrio e o bom funcionamento do organismo.
Qualidade: a alimentação deve ser completa na oferta de todos os nutrientes, além da água e das fibras.
Harmonia: manter a relação de proporcionalidade entre os nutrientes, água e fibras, previstas nas diretrizes internacionais: carboidratos (50 a 70%), proteínas 10 a 20%, gorduras (20 a 35%), água (1,5 L a 2,0 L ao dia), fibras (20 a 35 g,), além das vitaminas e minerais.
Adequação: o plano alimentar deve ser construído à partir das necessidades individuais de cada um, adequados às questões biológicas (à idade, atividade física, estado fisiológico), psicossociais (hábitos alimentares, cultura, preferências) e condições financeiras.
A aplicação destas leis pode ser adaptada, dentro do possível, para diferentes formas de alimentação: onívora (grupo de pessoa que come de tudo) e os variados tipos de vegetariano.
Bibliografia consultada
Benarroz MB, Denolato A. Aspectos Nutricionais no Paciente Oncológico em Cuidados Paliativos. In Da Fonseca PRB, De Barros CM. Tratado da dor oncológica. Rio de Janeiro: Atheneu. 2019.
Chávez-Bosquez O, Pozos-Parra P. The Latin American laws of correct nutrition: Review, unified interpretation, model and tools. Comput Biol Med. 2016; 70:67-79.
Lima ES. Quantity, quality, harmony and distribution: the guiding principles for a society free from hunger in Josué de Castro. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, 2009; 16: 171-94.
Um comentário em “Nutrição e Alimentação: parece a mesma coisa, mas não é”