A pandemia do coronavirus provocou uma grave e complexa crise humanitária, atingindo em alguma medida todas as nações nas questões de saúde pública, sociopolíticas e econômicas. Entretanto, a fome é uma preocupação urgente por causa do progressivo número de pessoas que já estão em plena privação de alimentos, além daquelas que se somarão a estas no pós-pandemia. O Programa Mundial de Alimentos[1] alerta que nos próximos seis meses (até o final do ano), na fase final da transição da pandemia, haverá no mundo, provavelmente, 250 milhões de pessoas em condições de fome aguda.
Considerando que a fome e a pobreza se retroalimentam e geram cada vez mais doenças, configurando-se num cenário desastroso, vale a pena pensar nos cuidados paliativos como a abordagem mais adequada para o enfrentamento das demandas biopsicossociais apresentadas pelas pessoas com doenças progressivas e incuráveis, desnutridas e sem condições de alimentar-se adequadamente, afetadas direta ou indiretamente pela pandemia.
Os cuidados paliativos, devido a sua abordagem multidimensional para o alívio do sofrimento e promoção da qualidade de vida, podem oferecer ferramentas e linhas de cuidados específicos para mitigar os sofrimentos provocados tanto pela pandemia do coronavírus, como pelas suas consequências, inclusive a desnutrição, que tende a piorar, conforme já mencionado acima.
A pandemia e a fome, ainda que sejam questões de difícil resolução e dependam de vontade política nacional e internacional, deveriam ser discutidas e planejadas com ações que dignificam o doente e seus familiares, que valorizam a vida e tornam a morte um processo natural, que não abreviem nem prolonguem a vida, mas que apoiem a família durante a doença, o luto e o pós-luto, conforme as premissas dos cuidados paliativos.
Os cuidados paliativos podem ser o melhor caminho para ajudar bilhões de pessoas no mundo em sofrimento, o planejamento estratégico mais sensato para dignificar as pessoas vulneradas e a resposta para um mundo desigual. Afinal, os cuidados paliativos expressam compaixão em todas as suas diretrizes.
Bibliografia consultada
[1] The World Food Programme: https://insight.wfp.org/covid-19-will-almost-double-people-in-acute-hunger-by-end-of-2020-59df0c4a8072